sábado, 31 de julho de 2010

* passagem *



tela : Salvador Dali


pássaro leva
no bico
um trevo

a contemplar seus olhos
não me atrevo

amanhece
aranha tece
sem pressa
sua teia

acontece
breve prece
na misteriosa ceia
desejo tem pressa

lá fora (aos poucos)
o dia esmorece

Úrsula Avner


Caros amigos , amigas e visitantes , o folder anuncia o lançamento do livro Maria Clara: uniVersos femininos, pela Livro Pronto Editora na 21 ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo- S.P entre os dias 12 e 22 de Agosto. O livro reune poesias de doze autoras- as " Marias" , entre as quais eu estou incluida. Tenho o prazer de fazer parte dessa obra literária organizada pela mestra Hercília Fernandes, professora e poetisa de grande talento e sensibilidade. Obtenha mais informações sobre o livro clicando aqui

Obrigada pelo carinho de todos,

Úrsula Avner

segunda-feira, 26 de julho de 2010

" Hoje é dia de Maria Clara ... "


Olá amigos , amigas e visitantes... Hoje estou no Maria Clara Simplesmente Poesia com o poema Mera Contemplação. Para ler o poema clique aqui
Obrigada por sua visita e comentário. Um abraço a todos e todas !
* imagem -Freedom of my soul- Mel Gama

quinta-feira, 22 de julho de 2010

* Da ausência *



eis que de longe acena
a mão do tempo
agarrada ao horizonte
onde o sol se despede
em franjas douradas

não soube da revoada
de pássaros selados
marcados para viver
um destino previsível

soube da ausência
e saber-se ausência
é mais do que se pode suportar

soube das conchas expulsas do mar
guardadoras de mistérios
do que não se deve decifrar
mais uma vez a ausência
aos meus ouvidos a cantarolar

Úrsula Avner

* imagem do google- sem informação de autoria

terça-feira, 20 de julho de 2010

* (Re)canto *


arte: Patient gardener
By : Maggie Taylor


no ruflar das asas

entre um movimento e outro

silêncio inescrutável

lampejo de existência

mistério insondável


vesti-me de sons

que andei recolhendo

aqui e ali na orla

do intocável vento

no estribilho do tempo


se já fui verso

hoje sou (re)verso

linhas traçadas

com gosto de sangue

caducam em veias abertas

nuas e secas

imagens incertas

do que me acometeu


se em mim

arrefeceu

o que é poesia

não me abato

amanhã

é outro dia


Úrsula Avner

domingo, 18 de julho de 2010

* Amplidão *

lanço as pernas ao ar

porque o chão é áspero

prende em placas de cimento

o que se quer deixar voar


levita ave azul do pensamento

leva em seu frágil corpo

a fugacidade do instante oco

o tártaro do sentimento


Úrsula Avner

* imagem retirada do google- sem informação de autoria

quarta-feira, 14 de julho de 2010

* Quando me vejo *

tela : Olhando no espelho
autor : Marco Antônio

no suplício das horas
um resquício de sol
suspiro incontido vaga
entre colunas e paredes
espectro solar

Foge da luz
chama de vida
só na penumbra
encontra guarida
estou a salvo
de mim mesma
salvo quando
me olho no espelho
onde quase tudo
é claridade


Úrsula Avner

domingo, 11 de julho de 2010

* (Des)encontro familiar *


Tela : Café na roça
artista : Cristina

algo acontece


quando os talheres tinem


pratos se estranham


na mesa posta



não é ao acaso


que flores esperam


em jarro de água fria


silenciosas inertes


apenas observam


os espasmos do dia


aquilo que de outro modo


não vivenciariam



agarra-se á áurea do cotidiano


lamento das horas


os mesmos gestos


as mesmas palavras


cirandam a mesa



os mesmos ritos


as mesmas risadas


pães dormidos na cesta



Úrsula Avner


* poema inspirado no livro " Reunião de família " de Lya Luft.
Obrigada por sua visita e comentário !

sexta-feira, 9 de julho de 2010

* Entre palavras *

imagem : Patícia Van Lubeck


de tudo o que se pode guardar
guarde o silêncio
objetos são perecíveis
palavras... dispensáveis
o silêncio é enfático e duradouro
ainda que por alguns instantes

a reflexão é do silêncio
o ancoradouro
fere com estacas pontiagudas
a alma das palavras
serpenteia como lâminas cortantes

o silêncio é grilo falante
quando se colhe sentimentos
filho da verborragia
corta o ar como uma cotovia

nos versos da poesia
o silêncio é chama intrépida
travestido de palavras em seda fria
som estrepitoso
ecoa solitário
nas cavernas da mente

entre palavras e palavras
a pausa colossal do silêncio
é brado veemente
lacuna onde se deita
o que não é dito
ou dito de modo surpreendente
no suspiro abafado
no canto dos olhos
no sorriso embotado

brada o silêncio
o que os pulmões condensam
revela o que os seres
mais sensíveis pensam
faz imenso barulho em mim
é começo e é o fim

Úrsula Avner


* Obrigada pela gentileza de sua visita e comentário.

domingo, 4 de julho de 2010

* Valencia *


tela : A mulher
autora: Cristina Coelho

o que me vale
são os pés
fincados na estrada
ora retilínea
ora desdobrada em curvas

o que me vale
é a amplitude da alma
dissolvida em reflexões
ora desnuda
ora trancada em porões

Úrsula Avner

quinta-feira, 1 de julho de 2010

* Asas no azul *


arte : Freedom of my soul
by : Mel Gama
quando o mar abrir seu colo
deitar-me-ei em plácidas ondas
berço das vontades inquietas
dos desejos doudos
das palavras desertas

num ramo de flor
atei um pedido
raiz caule dor
do que não foi ouvido


Úrsula Avner