sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

* Visão de mundo *


sorvi do tempo o que
não se podia perscrutar
avancei mar adentro

penetrei o mel e a azia
de cada sentimento
tra(vesti) a dor de poesia

embalei canções uterinas
em ventre rasgado de dor
vi papoulas regadas a urina
senti seu odor

coisas escandalosas
cortam os dias
coisas vãs e tortas
são abelhas africanas
na boca de homens improbos
almas vazias mentes insanas

a sombra das árvores que ainda salivam
foge dos homens cuja calçada é o sol
os homens não sabem que as árvores uivam


figuras espectrais rondam as ruas
há medo em olhares altivos
vestes camuflam almas nuas

há espelhos em cada canto
refletem imagens disformes fugidias
um pardal entoa seu can(pran)to
notas afinadas porém tardias

a pressa é hipertensa foge do sono
incute ao paladar sequidão losna de abismo
halitose labirintite fobia abandono

em cada olhar um caco de vidro
arranha a tênue imagem da esperança
lâmina na cama faz vazar o prurido

ossos estralam ouço seus gritos
osteoporose artrose lordose
vidas lânguidas em leitos aflitos

sorvi do tempo a parte dentada
protuberantes caninos e molares
mandíbulas afiadas ranhuras
marcas da poderosa arcada
o que resta são meros disfarces

Úrsula Avner


* poema com registro de autoria
* imagem do google

17 comentários:

  1. Oi Úrsula. Um tempo longe, agora de volta. Forte esse seu poema. O primeiro que leio seu assim. Belíssimo. Gosto de textos profundos assim. Sempre talentosa poetisa. Bom te ler.Bjsss

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  2. Un poema maravilloso.

    Es un placer visitarte.

    Un abrazo
    Saludos fraternos..

    Que tengas un bello fin de semana..

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  3. Úrsula

    Há vários olhos para se ver o mundo!
    Quando se entra mar adentro para senti-lo, mesmo tra(vestindo) a dor de poesia, ela não consegue abafar os gritos que ecoam das suas profundezas.
    O tempo não pedoa, estraga até os disfarces...

    Lindas palavras, um estilo diferente do que estou habituada a ler por aqui, mas nem por isso perde o brilho que colocas em todas as poesias que sempre fazes.

    Bjs

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  4. Muito, muito bom. Fiquei até sem fôlego. Que imagens, que força: "os homens não sabem que as árvores uivam" - não sabem que também uivam. Olhamos tão pouco a vida de frente - sem disfarces. Que beleza de poema, Úrsula. Beijooo.

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  5. Úrsula,

    O seu Blog é maravilhoso, vir aqui é um momento comovente para os amantes da poesia...

    Esse poema é especial, lindo!!Parabéns!

    Grande beijo,

    Reggina Moon

    visite:
    www.versidamori.blogspot.com

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  6. Incrível! Desses poemas que nos deixam sem fala.

    Beijo grande!

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  7. Como o poema humana profunda, magro, que era tempo para o aparecimento de um poema de desilusão entre ambos tão animado e sonho, um prazer ler você. Um abraço.

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  8. Forte "visão de mundo", Úrsula! Parabéns pelo magnífico poema! Bom demais (como sempre)!

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  9. Poema forte e profundom muito intenso e inspirado.Parabens.Arnoldo Pimentel

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  10. Intenso, belo, profundo, mágico. amei. Beijo

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  11. ÚRsula,
    esse poema está lacinante, há uma dor profunda nele...nada de parecido com tuas borboletas, mas esteticamente bonito.

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  12. Forte e belo!

    Úrsula, aplausos, amiga!

    Beijos

    Mirse

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  13. Um poema muito forte e intenso e cheio de sensíveis metáforas.
    Um beijo.

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  14. Agradeço a presença amável e gentileza dos comentários de cada amigo (a) que visitam meu cantinho. Bj afetuoso.

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  15. Lindo dmais e que saudades suas. bjs e vem ver a Alice em exposição

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  16. Oi, Úrsula!

    Vim ler o poema que você mencionou lá no Nudez Poética. As imagens são fortes e inquiridoras.
    Gostei bastante!

    Beijos

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  17. Paula e Lou,

    obrigada pelo carinho. Bj afetuoso,

    Úrsula

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