quinta-feira, 17 de junho de 2010

* Pisaduras *

sôfregos pés
que pisam cacos
reviram a terra
cavucam buracos
ganham calos

plácidos pés
que saltitam em palácios
acariciam pétalas
dormem em seda ou linho
nada conhecem
do chão

descalços pés
que penteiam a relva
pisam as uvas
provam o vinho
não labutam
em vão

Úrsula Avner

* imagem encontrada em pequisa feita no google- sem informação de autoria

14 comentários:

  1. Bonito e delicado poema, Úrsula.

    Beijos.

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  2. Úrsula, querida!
    Que beleza de poema... pode-se andar nele.

    Pés nus, nua alma. O que importa é que sejam livres.
    Bjs

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  3. Queridíssima Amiga;

    Tu és uma poetisa Contemporânea que trabalha palavras como elas – as palavras – fossem de mel puro.
    Mostra-nos que os pés deixam suas pegadas, obedecendo à única Lei; a Lei da gravidade, assim com o Astro Rei que ilumina a todos sem escolher este ou aquele; endinheirados ou empobrecidos.
    Carregas no semblante um ar dum profundo carisma. Continue assim, com este olhar que enobrece a nós todos e, ficamos animamos com tua poesia especial!
    Um grande abraço fraternal!

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  4. Úrsula,
    lindo esse poema metáfora da nossa batalha...os pés que abrem o caminho da nossa vida, que suportam o peso a carregar...

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  5. oi úrsula,
    lindo...
    perfeito...
    a imagem belissima.
    bjos com carinho.

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  6. Com este poema aumentou a minha dívida e a minha gratidão de afortunado pela sua leitura e todo o deleite provocado...
    Sejam as palavras seguintes, o meu reconhecido tributo ao seu genial "mosto":


    Décimo Cálice

    O presente é uma esquina
    Entre o passado e o amanhã
    Que o Sol, raio a raio, ilumina
    Treze ao todo, conforme Arina
    Dita pela voz da Lua, sua irmã.

    Aquela que a reflecte por alva luz
    Nas tardes escuras, presas do breu
    Pois assim nos ama e alivia a cruz
    Pondo cada um mais perto do céu.

    Se às mãos justapostas erguidas
    Ou acenando A Deus os dedos abertos
    Prometer compor das suas vidas
    Os hinos de coro das vozes unidas
    Com a clave dos solfejos despertos.

    E dispersos no globo virtual
    Que alinhava todo o mundo
    Numa rede de ponto-cruz universal
    Do tapete do voar profundo
    Com que aquela Vénus digital
    Fez do ser-se apenas animal
    A janela do celestial vagabundo.

    Argonauta dos nomes próprios
    De Cronos recíproca profundidade
    Sujeita alma a reduzidos aedos heterónimos
    Da liberdade acesa Reia aspergindo sinais
    Brilhos, cujos fátuos olhos são a verdade
    Estrela dos teus por que nos vemos iguais.

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  7. A MERDA DO MUNDO
    À Pier Paolo Pasolini, in memorian


    Dizem, certos historiadores, e até mesmo alguns intelectuais, que, depois da derrubada do muro de Berlim, do fim do regime comunista da antiga União Soviética, consequentemente, o fim da guerra fria, e, finalmente, com o advento da globalização, chegaram, também, as utopias, ou seja, como se a História chegasse ao fim e, com isso, prevalecendo apenas como realidade, a existência de uma vida voltada para o trabalho, à sobrevivência e aos pequenos objetivos pessoais a serem perseguidos no cotidiano de cada um, de cada qual.
    Não nos parece, caleidoscopicamente falando, que tal maneira miúda e mesquinha seja uma verdade insofismável, como se a História, no sentido de dinâmica e de transformações sociais, chegasse ao seu triste desaparecimento. E não se convêm pensar dessa forma em razão e com base naqueles fenômenos históricos que foram citados como elementos estruturais que deram início ao texto. Quer-se dizer, com isso, que as utopias, muito pelo contrário, não desapareceram, mas se modificaram e ganharam dimensões maiores e, por sua vez, a necessidade de participação e envolvimento maior das pessoas, em geral, e isso em todos os lugares do mundo, senão, apenas a título de exemplo, vejamos, pois.
    Temos, para início de conversa, o problema planetário do super aquecimento que a Terra vem sofrendo em decorrência do elevado índice de gases tóxicos emitidos na atmosfera, o que é motivo do despertar de uma consciência política de caráter universal; existe, a questão da concentração do Capital e da sua especulação em detrimento do bem estar social, criando, por força como a economia vem sendo conduzida, tanto a nível nacional como internacionamente, ao triste surgimento dos bolsões de miséria social que, em termos de sofrimento psicológico, fisiológico e espiritual, assemelham-se aos campos de concentração nazistas existentes no período da Segunda Guerra Munidial. Tal miséria social, por sua vez, vem gerando, em todo o mundo, as formas de violência dentro da sociedade das mais cruéis e estarrecedoras, além de suas maneiras de organização e infiltração que já se começa dentro das esferas de Poder, indiretamente falando, como vem acontecendo com alguns entes Estatais, principalmente com o avanço sofisticado do tráfico de drogas consideradas ilegais. Com esses poucos exemplos, e que vêm causando um mal estar muito grande na História, podemos acrescentar que não existe, por parte de nenhum governo democrático, qualquer política econômica ou financeira socialmente justa, no sentido de se criar uma responsabilidade social maior, por parte deles, com relação ao bem estar de ordem material, educacional, previdenciário e cultural, isso sem falar de todo um sistema de cultura de propaganda que visa em atender a política do consumo pelo consumo em detrimento dos valores éticos, morais e estéticos que contribuem na boa formação moral e cívica dos seus cidadãos, principalmente com relação aos jovens, que se encontram, dentro dessa nova conjuntura sócio-política-cultural, quase que completamente sem nenhum referencial para a formação de um bom caráter, o que faz com que muitos deles, acabem, lamentavelmente, precipitando-se no mundo da alienação mental, da violência e das drogas.

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  8. Vivemos, sim, numa época histórica muito mais empolgante e extraordinária, repleta de boas, humanas e grandes utopias, muito mais, talvez, do que nos tempos da bipolarização marcados pelas ideologias políticas envolvendo valores capitalistas e comunistas. O que, lamentavelmente parece estar acontecendo, é que o sistema de comunicação de massa moderno, controlado fundamentalmente pelo capital privado, tem, como objetivo maior, omitir a verdadeira realidade em que nossa época está mergulhada para, obviamente, fazer com que tais veículos difundam os valores de uma cultura midiática voltada mais para o consumismo e, com isso, como armas poderosas, exploram imagens sensuais, transformam, indiretamente, a mulher num objeto sexual e consegue consolidar, na mente da juventude, os valores sociais mais baixos e deletérios possíveis. Deveria existir uma censura prévia, de responsabilidade mais ética e moral, com relação a essas coisas? Seria importante, sob o ponto de vista da psiquiatria, da psicologia e da psicanálise, que o Estado e a sociedade repensassem sobre isso, levando-se em consideração a necessidade de preservar a juventude de tais excessos para que não sejam corrompidos já desde muito cedo em seu processo de formação e construção de índole e personalidade. Reconhecemos tratar-se de um expediente polêmico, mas, por outro lado, notamos que estamos vivemos o numa época em que os valores de natureza morais e éticos estão caindo em desusos e a televisão, principalmente, depois que invadiu os lares com suas programações medíocres e bestiais, quase toda ela, sem que exista espaços, durante o dia, para a existência de programas mais sérios e responsáveis com relação às questões mais cruciais que estamos vivendo por força de uma modernidade sem nenhum fim social.
    Não se pode, dentro desse caos social que as cidades estão vivendo, combater a questão da violência e do predomínio das drogas sobre o poder de repressão do Estado se, porventura, o próprio Estado, que é o dirigente da realidade do seu povo, dentro do seu território, com sua possibilidade de uso da sua força e do seu poder constitucionalmente organizados, não levar em consideração, juntamente com a sociedade civil organizada e representada, as questões que abordamos aqui, e outras muito mais.
    Não me lembro bem a época em que lendo, certa vez, uma entrevista do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, quando, ao ser entrevistado a respeito da juventude de sua época, este foi enfático e profético em dizer, naquela época, quando vivo, que sua juventude ia muito bem, mas, com relação as juventudes futuras ele se admitia desesperançoso, segundo ele, em razão dela está sendo vítima de um processo social que, ao invés de lhe inserir na vida política, envolvê-la, ela estaria sendo desviada de valores utópicos importantes para se perderem no submundo de uma subcultura de massa e de consumo que já se encontrava em ritmo acelerado e se espalhando pelo mundo todo. Para Pasolini teríamos, então, uma juventude, na sua grande parte expressiva, imbecilizada, inculta, alienada, completamente desprovida de valores éticos, sociais, políticos e revolucionários para, lamentavelmente, passarem a viver presa ao mundo da violência, da imoralidade bestial e das drogas, além, obviamente, de encherem as cadeias e os presídios, dando-nos grande tristeza pela dor, sofrimento e fim, afora a profunda angústia e o desespero que criam no seio de suas famílias.
    Vivemos numa época de lindas utopias, sim! Tais utopias são ou seriam possíveis de se concretizarem? Se devo emitir uma opinião, diria, lamentavelmente, que não, salvo, entretanto, se houvesse uma grande revolução no mundo das idéias sociais, culturais e políticas e isso está muito longe de acontecer, embora, paradoxalmente, muito mais perto de se acontecer um conflito bélico mundial. E é assim é que caminha nossa realidade, lamentavelmente.

    Guina

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  9. Uma belíssima ode aos pés, sustento de todo o corpo. Delicado como não poderia ser de outra maneira, escrito por você.

    Beijo Ursula. =*

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  10. Intenso e doce!

    São os pés que nos levam pelos caminhos que bem descreves!

    Show, Úrsula!

    Beijos

    Mirze

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  11. Décimo Primeiro Cálice


    Andam rosas autênticas sob o estampado de outras mais e-reais
    Que umas sendo arte reproduzem aquelas originais primeiras
    Não se sabendo agora reconhecer a autoria sufixa dada e às quais
    Sim, quais foram e são as verdadeiras, se aquelas das roseiras
    Ou estas @qui alvas subtis e glamorosas mais belas que as demais?


    Mas se gerar confusão esse romance assim sumariado no viés alfim
    Saiba-se então, que o soletrado afélio da rima é ainda mais para mim
    Onde aquela cujo nome me cresce à prontidão e entendimento atendido
    Se faz poema aceso-verso e sinal, estrofe de si a quadrar puro sentido
    Como se fora a Aurora ao fim do dia ou Vénus a pôr-se no Nascente
    Tudo trocado, nisto somado assente fica, que viver é bem mui pouco
    Pois põe-me o sentido louco, se quem deveras amo está flor ausente.


    Porém se caminha indica também caminho e é bússola desse raminho
    Haste de folha verde que a sustém no carinho da esperança sinuosa
    A subir amparada na roseira de asilo sem o espinho da rosa verdadeira
    Que destino estampado na seda, algodão ou linho é a mais real maneira
    De beber a fé primeira vestida de veludo nos lábios de pétala da rosa.

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  12. Agradeço a todos que por aqui passaram e registraram em palavras seu carinho. Um abraço afetuoso a todos e todas.

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