quarta-feira, 29 de setembro de 2010

*A noite(s)cendo *

desenho : Azul escuro com um toque de laranja
autora: Luiza Maciel Nogueira
http://versosdeluz.blogspot.com

num céu vazado
olhos de vaga-lume
se despedem do dia
correm o rio e o tempo
de mãos dadas
com a poesia
tão incisiva
no azul
no laranja
em Lara

Úrsula Avner

* poema inspirado na poesia- " Da cor de Lara " elaborada por Luiza Maciel Nogueira em homenagem à Lara Amaral do Teatro da Vida. Para ler a poesia clique aqui

* Singelo presente Lara !

sábado, 25 de setembro de 2010

* Sever(a)idade *

severo dia
severa forma
de não se importar
de engolir espasmos
da noite
em cama fria
se deitar

na esfera vazia
severa forma
de se acoplar

antes tivesse
encontrado na poesia
absoluta mudez
todavia
fala como uma doida
forma severa de delirar
- sem submergir -
na insensatez

Úrsula Avner

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

* Celeste *

tela : Azul musical
de: Ana Luiza Kaminski

da palavra
retilínea ossuda
anoréxica
fria opaca
traço o verso mudo
quando escrevo sou
voz em guelras de peixe
o barulho que faço
é (sub)aquático
com desejo de céu


Úrsula Avner

sábado, 18 de setembro de 2010

*Janela aberta *

línguas vermelhas
serpenteiam arte

em céu de esplendor
saliva o fim de tarde

no horizonte fulvo
o sol ainda arde

tímido complacente
envelhece e parte

Úrsula Avner

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

* A alma da poesia *

poesia é algo
que brota de dentro
desponta do fundo da alma
traduz valores desejos sentimentos
é mistura de encanto e desalento
nudez do que está oculto
descoberta de si mesmo
esmero da vida e do luto

poesia é arte
é coisa fina
é o abrir da densa cortina
que cobre o âmago do ser
aquilo que não se pode entender
sem o olhar que alcança o horizonte
sem a curiosidade dos infantes
sem a inquietude dos jovens
sem o borbulhar dos amantes

poesia é devaneio e beleza
é encontro programado
também é surpresa
dor prazer palco de sombras
luzes... incerteza

Úrsula Avner

* poema escrito em 2004 e editado no Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea- 2008 pela CBJE ( com algumas modificações em relação ao original)

* imagem do google- sem informação de autoria

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

* Multiplicidade *

tela : Gustav Klimt

porque me ignorou o sol
peguei carona com a lua
andei doidivana
fui Maria Clara, Celina, Ivana
já nem sei quem sou
estranha vida mundana

não há vírgula
entre o bem e o mal
entre a loucura e a lucidez
sequer um hifen
ou ponto final

quando bebo
do mesmo azul
de que se valem
os pássaros
o que é vida tardia
desagua em riso frouxo
quase alucinado
onde só se vê poesia
e a onipotente lua
plainando sobre água fria

Úrsula Avner

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

* A vida de uma lágrima ( Rondel )


imagem : Gota
autora : Luiza Maciel Nogueira
http://versosdeluz.blogspot.com


dos olhos escorrega uma lágrima
trajeto laborioso até o solo
gota de cristal transformada em magma
vulcaniza meu peito na busca do teu colo

precisa gota que brota da ânima
pequena pedra de sal que rola sem dolo
dos olhos escorrega uma lágrima
trajeto laborioso até o solo

pesada e viscosa é a lágrima que cai
sentimento burilado na porosidade dos lamaçais
pensamento marejado a lubrificar meus ais
solitário momento na inquietude da alma
dos olhos escorrega uma lágrima

Úrsula Avner

* este poema foi escrito há anos e só agora resolvi postá-lo. Grata pela leitura e comentário.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

* Estação *

tela : Gustav Klimt

colou em mim
estado de árvore
como sede
de um rio sequíssimo

calou em mim
o que foi dilúvio
água (trans) lúcida
feito pele argêntea de lua

leitosa
pedante
nua

Úrsula Avner

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

*Canção para Frida Kahlo*

tela : La columna rota
autora: Frida Kahlo


súbito estralam

ossos que dormem

querem estirar

como a língua casta

desejosa da saliva

(de outra língua)


ossos roídos

roem agora

a certeza do instante

ruídos se alastram

vermes se amontoam

á mesa posta


não podem ser vistos

mas estão lá


Úrsula Avner