
penso que primeiro
meus pés vieram ao mundo
depois o corpo rompeu
o velcro profundo
que me mantinha aconchegada
ás entranhas maternas
desapegada
de quaisquer coisas dessa Terra
talvez por isso eu goste tanto
de pisar o chão ou de sair dele
em passos leves como os da bailarina
num caminhar desafrouxado
beirando o mar que me fascina
toco pedregulhos e algas
com as pontas dos dedos
na carícia da areia úmida
recolho conchas com seus segredos
depois que eu nasci
com o tempo percebi
que a tez pregueada e os vincos profundos
foram herança materna
o sorriso encurralado ao canto dos olhos fundos
foi legado paterno
meus pés amam o chão
também repousam neles
asas lubrificadas
com o óleo fresco da imaginação
com a indescritível essência da emoção
Úrsula Avner* imagem do google- sem informação de autoria
* poema escrito em Agosto de 2008